O poço era escuro e estreito.
Também era frio, apesar de nenhuma gota d’água cair ali há anos. Era um
mistério como a criatura lá embaixo sobrevivera tanto tempo.
No fundo daquele buraco
gelado e solitário, a pobre criança continuava a olhar fixamente para cima,
tentando entender como um lugar tão terrível podia dar visão para algo tão
bonito: uma saída. Um ponto de luz branca vários metros acima dali era, sem
dúvida, uma esperança de liberdade. Mas não dava para sair dali, era impossível,
ela sabia. Estava sentada naquele lugar há tanto tempo que já se conformara que
não havia escapatória. Mesmo assim era curioso: uma saída. Passara toda a vida ali,
como nunca repara em algo que estava logo acima de sua cabeça? “Logo”. Era uma palavra
otimista, a luz estava a metros, talvez a quilômetros do alcance da criança.