06 agosto, 2012

Mad World

O poço era escuro e estreito. Também era frio, apesar de nenhuma gota d’água cair ali há anos. Era um mistério como a criatura lá embaixo sobrevivera tanto tempo.
No fundo daquele buraco gelado e solitário, a pobre criança continuava a olhar fixamente para cima, tentando entender como um lugar tão terrível podia dar visão para algo tão bonito: uma saída. Um ponto de luz branca vários metros acima dali era, sem dúvida, uma esperança de liberdade. Mas não dava para sair dali, era impossível, ela sabia. Estava sentada naquele lugar há tanto tempo que já se conformara que não havia escapatória. Mesmo assim era curioso: uma saída. Passara toda a vida ali, como nunca repara em algo que estava logo acima de sua cabeça? “Logo”. Era uma palavra otimista, a luz estava a metros, talvez a quilômetros do alcance da criança.

08 abril, 2012

O Caminho para o Apocalipse

Fui sequestrado. Taparam minha boca com fita, amarram meus membros com cordas eme jogaram dentro de um trem que está indo a trezentos por hora para um lugar que eu sempre temi conhecer. Um lugar que eu não quero conhecer. Um lugar que eu recuso conhecer com todas as minhas forças. Insisto em dizer que eu não pertenço àquilo. Não posso pertencer. Não quero pertencer.
Inicia-se a corrida contra o relógio, preciso arranjar um jeito de pular daquele trem. De me soltar. Se ele chegar àquela estação, chegar àquele lugar, tudo estará perdido. Toda a luta e persistência de todos esses anos serão irrelevantes. Preciso me soltar, tenho que lutar, não importa se vou me machucar, preciso pular desse trem.

05 janeiro, 2012

Ausência de Fé


            A morte. Desde criança eu, particularmente, interpreto-a como uma espécie de sono eterno. Quando eu durmo é como se eu não existisse. Eu não penso, nem me movo. Eu não faço nada. Minha mente fica desligada. A não ser quando eu sonho, claro, mas basicamente acho que é assim morrer. Dormir para sempre, sem ser religado de novo e de novo após o amanhecer. Dormir eternamente e sem sonhos.
            Não consigo acreditar nessa ideia de céu, paraíso e inferno. Não sei, simplesmente não me imagino andando em cima de nuvens, vestindo uma túnica branca e conversando com Einstein ou Elvis Presley. Apesar que, tenho que admitir que isso seria interessante. O caso é que sou ateu, mas gostaria de não ser. Gostaria ter a capacidade de ter fé. De acreditar. Mesmo eu tendo quase certeza que nada dessas crenças seja real, deve ser bom poder depositar as esperanças em algo.